A verdade por detrás da perfeição que não existe
Quem está sempre feliz, quem não te fala dos seus desafios, quem te conta histórias de amores perfeitos de filme deixa-me que te diga que te estão a enganar, e bem! O engano das ilusões que contamos a nós própri@s e depois aos outros é a forma mais perigosa de negarmos o poder de enfrentarmos as sombras que vivem dentro de nós. Já tod@s sabemos que ao fundo do túnel vem sempre a luz... Hoje venho aqui para te dizer que vale a penas confiares porque, mais tarde ou mais cedo, vais vislumbrá-la... isso posso garantir-te.
Sempre fui excelente aluna na escola.
Sempre fui demasiadamente bem comportada.
Sempre fui vista como a miúda que tinha um ar sempre calmo (poucos sabiam os problemas de ansiedade que mais tarde viriam).
O problema foi mesmo esse. Por demasiado tempo fui tudo aquilo que era esperado de mim e tornou-se um vício receber a medalha da "boazinha" vezes e vezes sem conta e talvez por isso durante tanto tempo tenha tido dificuldade em expressar aquilo que eu realmente desejava.
Comecei a fazer teatro muito nova e todas as ocasiões eram boas para experienciar ser uma amorosa velhinha da aldeia da minha avó, a minha bisavó ou até mesmo a mais pirosa das miúdas da escola com um anel em cada um dos dedos das mãos. Quando o mundo da actuação se começou a tornar sério, cada membro da minha família sabia melhor do que eu o que devia fazer com a minha vida. Isso tornou-se tóxico e muito. Venho de uma família de professores, pessoas com cargos em ministérios e outras coisas que, para mim, soam sempre a ficar bem dizer aos outros mas que sempre soube que não seria o caminho que eu queria seguir.
A certeza de desejar de forma profunda viver de acordo com aquilo em que acredito existe em mim desde cedo, o que não quer dizer, ainda assim, que já tenha as ferramentas necessárias para materializar todos os meus desejos. E está tudo bem, é um processo.
Lembro-me de estar um dia à mesa com a minha família e de pensar "talvez o meu futuro não passe pela actuação e está tudo bem, eu só não quero acomodar-me a uma vida que os outros querem que eu viva".
Bem dito, bem feito.
Aqui estou eu, a escrever do meu aconchegante e familiar apartamento em Deli, onde vivo desde o início do ano. Com 25 anos, deixei um emprego seguro com um salário bastante bem pago porque sabia que não queria trocar o meu tempo por dinheiro. A pandemia trocou-me as voltas e apenas depois de dois meses na maravilhosa Índia decidi ser eu a trocar as voltas à vida e prometi não desistir de todo o caminho que já tinha percorrido. Há um ano e sete meses (ui, que quando escrevo isto há um esboçar de sorriso por tudo o que já passou) achava que estava a escolher investir num projecto de impacto social mas enganei-me: escolhi investir em mim, escolhi investir na minha verdade, aquela que hoje escrevo e reescrevo por forma a caminhar os passos da verdade que já há muito tempo gritavam em mim.
Ter-me afastado de tudo aquilo que conheci durante 25 anos da minha levou-me a quebrar-me por dentro de formas dolorosas e tremendamente reveladoras. Essa dor foi-se transformando em coragem, resiliência e na capacidade de nos silêncios da vida escutar a sua verdadeira sabedoria.
Hoje decidi deixar de lado o voluntariado, o impacto social para te dizer que por detrás de tudo isto está alguém que tropeçou muitas muitas vezes.
Alguém que já chorou com uma dor tão tremenda que o desejo era voltar para a segurança do ventre da mãe, alguém que colocou na prisão um homem que cometeu crimes por dez anos e que se suspeita estar envolvido numa rede de tráfico humano, alguém que foi a personagem principal de um filme de um director independente em Bollywood, alguém que encontrou o amor além fronteiras, alguém que encontrou muitas respostas e ainda mais perguntas mas, acima de tudo, alguém que entendeu que confiar vale a pena porque do lado do desconhecido há um mundo de surpresas maravilhosas guardadas especialmente para cada um de nós. O caminho é o certo quando a alma está em paz, quando há gratidão e quando sabemos que o dia de amanhã trará um novo desafio que nos prepará para sermos mais resilientes, fortes e empáticos. Eu juro que olho para trás e há situações que não sei como fui capaz de as ultrapassar, mas fui, e não sou mais capacitada que tu, só tive fé e acreditei, espero que faças o mesmo, por ti, sempre!
Mais do que o apego ao mundo material, encontrei a essência de estar disposta a despir-me de tudo o que é ilusório e vestir-me do que faz realmente sentido para mim, não o que faz sentido para a sociedade, para a minha mãe, a minha tia, o piriquito ou até as pedras da calçada.
A essência de respeitar o que faz a minha alma brilhar...
Estou aqui a escrever sobre mim mas sou um espelho teu através do qual poderás ter a oportunidade de te ver ou rever. A caminhada é um processo, longo, com algumas pedras mas também com muitos muitos momentos de "Ahhhh, agora entendi".
Para quem acha que o "larguei tudo e fui para o outro lado do mundo" é um mar de rosas aqui estou eu para te dizer que não é e ainda bem!
E tu, em que jornada estás? Como te tens sentido? De que forma tens abraçado tudo aquilo que vai dentro de ti? Conta-me nos comentários, vou ler-te! Sente-te confortável e segur@ este lugar é um espaço em que a vulnerabilidade é recebida, aceite e abraçada com muito amor.
Obrigada por me leres
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